08/01/2024
MARCOS ROTHKO
O PINTOR DE TODOS OS SILÊNCIOS NA FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
A Fundação Louis Vuitton apresenta, até 2 de abril de 2024, a maior retrospetiva de sempre do artista.
Mark Rothko (LV, 1903-1970) dizia, quando questionado sobre as suas pinturas, que “o silêncio é o mais acertado”, temendo que as palavras paralisassem e condicionassem a mente e a imaginação dos espectadores. Rothko, que recusava todos os títulos ou gavetas em que a crítica gostava de o colocar, acreditava que uma imagem abstrata representa diretamente a natureza e a essência do Ser Humano. Talvez seja pela densidade teórica que juntou à sua produção artística, que a sua obra se tenha tornado intemporal e que o artista ocupe lugar como um dos mais importantes da sua geração.
Merecendo tudo isto a análise subjetiva do leitura e obedecendo, o meu encantamento, a uma inegável política de gosto, certo é que a exposição que a Fundação Louis Vuitton, em Paris, apresenta, até 2 de abril de 2024, é a maior retrospetiva de sempre de Mark Rothko, permitindo-nos viajar pela sua produção inicial, onde se revela uma adesão inicial à figuração e ao surrealismo, dos quais se foi afastando em busca do silêncio da cor e sempre num processo de expansão da ação do corpo sobre a tela, que o fizeram chegar aos grandes formatos.
Neste sentido, ao longo de nove salas e dos vários pisos do lindíssimo edifício, projetado pelo arquiteto Frank Gehry (CA, 1929), a fundação de Bernard Arnault (FR, 1949) confirma o seu relevante papel, ao longo dos últimos dez anos, de divulgação de grandes nomes da produção artística contemporânea, numa exposição onde se reúnem 115 obras de uma artista que questionou a plasticidade e o espaço, negando o princípio da poética da cor como seu, e pensando a pintura como a experiência da música, como o próprio escreveu e podemos ler na compilação “A realidade do artista” (2004), que reúne textos seus sobre a filosofia da arte: “O movimento em relação ao plano do quadro – afastando-se dele, avançando para ele e simultaneamente através dele – eis o meio através do qual se obtém a experiência pictórica. É muito parecido com o que acontece na música, pois ser-nos-ia impossível pensar numa afirmação musical que não fosse movimento no tempo, subindo e descendo na escala ou progredindo através dos compassos do ritmo.”
Mark Rothko nasce na Letónia, então território do Império Russo, no seio de uma família judaica que se vê obrigada, por volta de 1913, a emigrar para os EUA em fuga às perseguições de que os judeus eram alvo. Estudou na Lincoln High School de Portland e depois na Universidade Yale, acabando por se tornar professor de desenho para crianças no final da década de 1920. Em 1934 funda a Artist Union de Nova York e poucos anos depois obtém nacionalidade americana. As obras deste período, talvez as menos conhecidas do artista, marcam os primeiros capítulos desta exposição, revelando um pintor da figura humana e de cenários urbanos, com particular destaque para as cenas nas estações de metro e para o autorretrato de 1936. Vai abandonando, gradualmente, a figuração em busca da paisagem plena e da profundidade da pintura, merecendo destaque a sala dedicada aos “Seagram Murals”, as nove pinturas de grande formato de 1958-59, pensadas para a Sala Rothko na Tate Gallery e que viajaram de Londres para Paris, no contexto desta exposição. Ainda, as obras, com ausência de cor, produzidas tomando como inspiração a obra de Alberto Giacometti (CH, 1901-1966), no âmbito de um projeto comissionado pela UNESCO, após a morte do escultor, e onde Rothko também revela o seu estado depressivo
Após o diagnóstico de um aneurisma (1968) que o impedia de pintar grandes formatos e que, seguramente, o terá levado ao suicídio em 1970.
Esta que é, para mim, uma exposição a não perder, é uma oportunidade única para mergulhar no silêncio de um pintor, que não obstante o seu enquadramento na geração de pintores do expressionismo abstrato americano do pós-II Guerra Mundial, como também o são Jackson Po***ck (EUA, 1912-1956) ou Willem de Kooning (NLD, 1904-1997) (todos eles promovidos inicialmente por Peggy Guggenheim (EUA, 1898-1979)), ultrapassou os limites das palavras tornando-se, simplesmente, no pintor de todos os silêncios.
"Mark Rothko"
Fundação Louis Vuitton
Até 2 de abril de 2024
Um dos artistas proeminentes de sua geração, Marcos Rothko está intimamente identificado com a escola de Nova York, um círculo de pintores que surgiu durante a década de 1940 como uma nova voz coletiva na arte americana. Durante uma carreira que durou cinco décadas, ele criou uma nova e apaixonada forma de pintura abstrata.
O trabalho de Rothko é caracterizado por uma atenção rigorosa a elementos formais como cor, forma, equilíbrio, profundidade, composição e escala; no entanto, recusou-se a considerar as suas pinturas apenas nestes termos. Ele explicou: "É uma noção amplamente aceita entre os pintores que não importa o que se pinta, desde que seja bem pintado. Esta é a essência do academicismo. Não existe boa pintura sobre nada."
Um retângulo cor de tangerina e um retângulo amarelo manteiga flutuam contra um campo amarelo dourado nesta pintura vertical abstrata. Na parte superior, o retângulo tangerina se estende quase pela largura da pintura e vai desde perto da borda superior até quase a metade da pintura. Abaixo dele, um retângulo maior em tons amarelos brilhantes ancora os três quintos inferiores da pintura. O amarelo do retângulo inferior varia do amarelo claro ao bronzeado. O fundo quente de cor ocre é pintado de forma plana e uniforme e cria uma borda ao redor e entre os retângulos. As pinceladas dentro dos retângulos apresentam bordas suaves e indistintas, com efeito desfocado. O retângulo cor de tangerina é formado por pinceladas verticais ascendentes feitas com pincel largo, mais densas na parte inferior e terminando em uma borda fina na parte superior. O retângulo amarelo inferior tem pinceladas variadas que formam formas suaves e indistintas em forma de nuvem dentro da forma geométrica. Na borda inferior direita do retângulo tangerina superior, uma sugestão de um traço vertical de tinta azul esverdeado emerge por baixo do fundo ocre. Ao redor das bordas do retângulo amarelo inferior há notas sutis de tangerina e, às vezes, sangramento azul esverdeado em torno de todas as
Em 1949, Rothko introduziu um formato composicional que continuaria a desenvolver ao longo de sua carreira. Composta por diversas formas retangulares alinhadas verticalmente e inseridas em um campo colorido, a “imagem” de Rothko se prestava a uma notável diversidade de aparências.
Nessas obras, grande escala, estrutura aberta e finas camadas de cor se combinam para transmitir a impressão de um espaço pictórico raso. A cor, pela qual o trabalho de Rothko é talvez mais celebrado, atinge aqui uma luminosidade sem precedentes.
Suas pinturas clássicas da década de 1950 são caracterizadas por dimensões crescentes e um uso cada vez mais simplificado da forma, tons brilhantes e manchas de cores amplas e finas. Em seus grandes retângulos de cor flutuantes, que parecem envolver o espectador, ele explorou com raro domínio de nuances o potencial expressivo dos contrastes e modulações de cores.
Alternadamente radiante e sombria, a arte de Rothko distingue-se por um raro grau de concentração sustentada em propriedades pictóricas puras, como cor, superfície, proporção e escala, acompanhada pela convicção de que esses elementos poderiam revelar a presença de uma elevada verdade filosófica. Elementos visuais como luminosidade, escuridão, espaço amplo e contraste de cores foram associados, pelo próprio artista e por outros comentaristas, a temas profundos como a tragédia, o êxtase e o sublime. Rothko, entretanto, geralmente evitava explicar o conteúdo de sua obra, acreditando que a imagem abstrata poderia representar diretamente a natureza fundamental do "drama humano".
A exposição de Mark Rothko na qual este artigo se baseia é uma retrospectiva abrangente do trabalho do artista. Com 115 obras em tela e papel abrangendo todas as fases da carreira de Rothko, a exposição revelou a notável profundidade de sua realização artística. A mostra inclui uma seleção de obras emprestadas para a exposição, bem como diversas pinturas e desenhos do acervo permanente da Galeria, alguns dos quais não estão atualmente em exibição.