27/02/2018
Rio Secreto
UM SALÃO PERSA NO SUBSOLO DO RIO
Uma das grandes belezas do Rio de Janeiro não está visível para a maioria dos cariocas.
Localizado no subsolo do Theatro Municipal, o Salão Assyrio teve início juntamente com a inauguração do Teatro.
Foi inaugurado na praça Marechal Floriano, esquina com a então Avenida Central, atual Rio Branco. O evento teve a presença do presidente da República, Nilo Peçanha (1867 – 1924), e do prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Marcelino de Sousa Aguiar (1855 – 1935), dentre outras personalidades. A um discurso de Olavo Bilac (1865 – 1918), seguiu-se a programação artística da inauguração: sob a regência do maestro Francisco Braga (1868 – 1945) foram executados o poema sinfônico de sua autoria, Insomnia, e do noturno da ópera Condor, de Carlos Gomes (1836 – 1896). Depois foi encenado um delicioso ato em prosa do grande estilista Coelho Neto, Bonança. Na terceira e última parte do espetáculo foi apresentada a ópera Moema, de Joaquim Torres Delgado de Carvalho (1872 – 1921). Após a apresentação, vários espectadores foram para o Salão Assyrio, até então restaurante do teatro (O Paiz, 14 de julho e 15 de julho de 1909; e Gazeta de Notícias, 15 de julho de 1909).
O Salão Assyrio abrigou também, em décadas passadas, os primeiros grandes bailes de máscaras do Municipal. Ali funcionou também um cabaré – onde se apresentava Pixinguinha, acompanhado de seu legendário grupo Os Oito Batutas – e ainda o Museu do Theatro. Após a restauração ocorrida entre 1976 e 1978, o espaço retornou à sua atividade inicial de restaurante.
Quem chega pela primeira vez ao restaurante Assyrio surpreende-se com a mudança brusca entre o estilo renascentista do Theatro e a inspiração do projeto decorativo deste salão, resultante de uma composição entre os estilos babilônico, assyrio e persa (remete à região da Babilônia e Assyria, onde é nítida a referência ao Palácio de Xerxes, em Persepolis (cerca de A.C, 485-465).
O espaço, com divisão em dois planos, possui o teto baixo, sustentado por colunas que terminam com cabeças de touro, em estilo persa.
As paredes do Salão, todas revestidas em cerâmica esmaltada, são decoradas por painéis de mosaico. Ali podemos apreciar a frisa dos leões e a rampa das escadas do palácio de Artaxerxes, assim como a frisa dos arqueiros, original da sala do trono de Dario I, e os enormes Kerub, seres alados, que guarnecem as escadas.
Há ainda, em paredes opostas, duas belíssimas fontes – a primeira representa o lendário herói Gilgamesh, rei da Suméria, que aparece asfixiando um leão em um alto-relevo, cujo original (Héros maîtrisant un lion) se encontra no Museu do Louvre, na França, sendo este o único detalhe puramente assírio da decoração; a segunda mostra o imperador Dario apunhalando um gênio do mal, inspirado na decoração de seu palácio, em Persépolis.
A evocação deste período histórico ganha destaque pelos espelhos engastados em bronze antigo e a iluminação efetuada por originalíssimas lâmpadas. Os lustres têm inspiração islâmica e as luminárias, nos espelhos entre as portas, são montadas sobre touros.
As portas do salão ganharam molduras de pedra gravadas com margaridas, a flor sagrada da Mesopotâmia.
Atualmente no Assyrio funciona o Café do Theatro, que dá acesso para o Boulevard, o jardim do Theatro, novo espaço criado durante a última reforma, com saída para a Av. 13 de maio.