21/12/2023
ESFINGES CARIOCAS
O personagem principal de ‘Édipo Rei’, obra-prima de Sófocles, deparou-se com o enigma proposto por uma esfinge, à entrada da cidade de Tebas. A criatura monstruosa, com cabeça humana e corpo de leão, exigiu-lhe que dissesse qual criatura anda sobre quatro patas pela manhã, duas ao longo do dia e três, à noite. Mais que uma charada, a pergunta era questão de vida ou morte — centenas de viajantes que não encontraram a resposta acabaram devorados pela esfinge. Porém, Édipo decifrou o enigma, dizendo ser o homem aquele animal, já que engatinha na infância, depois anda sobre duas pernas e, quando na velhice, apoia-se em um cajado. Derrotada e humilhada, a esfinge atirou-se em um precipício, no drama de um dos principais autores da Grécia Clássica.
Sorte nossa, que as esfinges do Parque Guinle não nos propõem nenhum desafio — elas só dão as boas-vindas aos 24 mil metros quadrados de ar puro e tranquilidade, incrustados no bairro das Laranjeiras. Antiga chácara, o espaço era parte dos jardins do majestoso Palácio Laranjeiras, maravilha neoclássica construída pelo ricaço Eduardo Guinle (1846-1912), um dos maiores empreendedores da história brasileira. Segundo seus biógrafos, ele curtia uma ostentação e resolveu instalar aqui, na entrada de sua propriedade, esculturas de inspiração francesa.
Feitas em mármore branco, as duas esfinges são montadas por anjos de bronze e reproduzem, em escala menor, esculturas de Louis Lerambert existentes no Jardim de Versailles, em Paris.
Hoje, o Palácio Laranjeiras abriga a residência oficial do governador do Estado do Rio de Janeiro e o parque é uma ótima opção de lazer ao ar livre, sobretudo para as crianças, que contam com brinquedos e muita grama para correr à vontade. Aqui fora, o pórtico preserva as belezas de um tempo em que os equipamentos não apenas tinham utilidade, mas finalidade estética. Feito em ferro fundido e com detalhes em bronze, o portão é um dos mais bonitos do Rio. Quanto às duas esfinges, elas recebem o visitante com sorrisinho discreto, como que tirando uma onda — enfim, coisa de carioca.