18/02/2015
Dia 9, 10 e 11 - Montevideo - Colonia Del Sacramento
O nono dia foi relativamente tranquilo. Como estávamos no Hostel, não precisamos desarmar acampamento antes de sair como aconteceu nos outros dias. Por causa disso, nos programamos para acordar mais tarde nesse dia, às 7:00.
No entanto, a noite foi um pouco "conturbada" no quarto que estávamos. Dividíamos o quarto com muitas pessoas e tudo corria bem até a chegada dos últimos hóspedes (Uma turma de skatistas mochileiros que, infelizmente, não tinham muito senso de coletividade e convivência).
Mas quem se hospeda em Hostel já está ciente que isso pode acontecer e embora eles tenham atrapalhado o nosso sono - principalmente o sono do Pedro, que compartilhava o beliche com um dos skatistas - nós tiramos de letra as inconveniências dos nossos colegas de quarto.
Às 8:00 já estávamos com tudo arrumado sobre as Bikes. Foi só tomar um café, acertar a conta do Hostel e sair. Durante o café conhecemos um brasileiro que está viajando de bike há 3 anos e que seguia para Punta Del Leste, caminho contrário do que fizemos para chegar a Montevdeo.
Como de costume, antes do pedal paramos comprar água. Depois foi só sair tranquilamente da cidade até a rodovia. Como era domingo, as ruas da capital estavam completamente livres e sem trânsito e, assim, pedalamos por Montevideo como se estivéssemos em Xaxim.
À apenas 4km do Hostel já entramos da Rota 1, rodovia que nos levaria até a última cidade da nossa expedição. Trata-se de mas uma rodovia pedagiada e muito bem cuidada. Diga-se de passagem, achamos que os uruguaios sabiam que nós viríamos pedalar aqui e mandaram cortar a grama em todas as rodovias do país. Inacreditável o capricho e o cuidado ao redor das estradas.
Seguimos pela Rota 1 tão calmamente quanto quando saímos da cidade. Domingo é um ótimo dia pra se pedalar, em qualquer parte que se vá, é sempre mais calmo.
Seguimos fazendo nossas paradas programadas a cada 25km, pois elas deram muito certo no último percurso. A parada dos 50km coincidiu com um posto da Rede ANCAP, muito comum aqui no Uruguai. Então aproveitamos e comemos um lanche mais elaborado por ali mesmo e descansamos até às 15:00 para evitarmos o sol mais forte.
Após os 100km de pedal já começamos observar possíveis pontos para passarmos a noite.
Como sabíamos, não haviam campings próximos a rodovia. Todos ficam próximos às praias e, dessa forma, precisaríamos enfrentar longos percursos de estrada de chão, para entrar e ficar em algum camping.
A ideia inicial era encontrar alguma casa em que o morador nos permitisse armar as barracas por ali mesmo. No entanto, quando chegamos próximo a uma cidade já eram quase 20:00 e o dia estava escurecendo. E pedir um favor desse para 3 sujeitos estranhos, sujos e cansados, quando já está escuro é uma tarefa na qual dificilmente se conseguirá êxito. Então decidimos entrar na cidade de Nueva Helvecia, que era a mais próxima de onde estávamos.
Trata-se de uma colônia Suíça em pleno Uruguai. Já na fisionomia dos moradores logo percebemos notória diferença com os uruguaios, Cabelos loiros, quase brancos, e pele bastante clara. Todas as casas da cidade sem cercas, com belíssimos jardins e ruas arborizadas, nos dava a sensação de segurança e de que em qualquer quintal seria possível montar acampamento e dormir com a porta da barraca aberta.
No entanto, a noite foi totalmente ao contrário.
Logo que chegamos buscamos um camping que uma placa na entrada da cidade indicara, mas, como imaginávamos, infelizmente não havia o dito camping. Procuramos pousadas na cidade, mas todas estavam lotadas. Pedimos para acampar em um terreno baldio, mas não fomos autorizados. Enquanto isso a noite chegava, cada vez mais escura.
À certa altura um morador nos indicou um parque da cidade e fomos até lá. Ao chegarmos, algumas pessoas estavam fazendo exercício e uma simpática senhora que havia viajado ao Brasil alguns dias antes veio falar conosco. Explicamos a situação e ela nos aconselhou a procurarmos um outro parque municipal, onde haveria também agua e banheiros para que pudéssemos passar a noite melhor.
Rapidamente embarcamos nas Bikes e fomos em busca do tal parque a uns 3km dali. No caminho paramos numa padaria comprar água para fazer a janta.
Por fim, quando chegamos no parque quase não havia mais luz do sol e a responsável do local já estava fechando os banheiros. Conversamos com ela sobre acampar no local e ela nos alertou que lá não era área de camping, mas que poderíamos passar a noite ali e que ela avisaria a polícia que estaríamos naquele local durante a noite. Ela também nos avisou que era comum alguns jovens aparecerem ali para fumar e beber, mas que não precisaríamos temer quanto a roubo nem nada.
Então não nos restou outra coisa a não ser montar acampamento. Escolhemos um local mais retirado dentro do parque, armamos as barracas e fizemos a janta - tradicional massa com salame. Enquanto isso, continuamente carros e barulhentas motos passavam acelerando numa estrada que havia dentro do parque, bem próxima ao nosso acampamento. Mas até aí tudo bem.
Por volta das 23:00 o movimento já havia quase cessado no local e não restava outra coisa a não ser dormir.
Em questão de 5 minutos já estávamos sonhando, com exceção do Felipe que não pregou olho preocupado com a movimentação no parque.
Às 23:30 um susto. Um sujeito mal encarado começou a falar alto e a bater violentamente numa churrasqueira de latão que havia próximo às nossas barracas. O Felipe imediatamente nos acordou e ficamos todos alertas esperando o que se sucederia. Mais pessoas apareceram e pararam as batidas na churrasqueira.
Pouco depois o sujeito e seus amigos se afastaram. Já estávamos quase dormindo novamente quando um carro acelerou e deu um "cavalo de pau" muito próximo às nossas barracas. Barulhentas motos seguiram o carro também fazendo manobras perigosas. Foi um susto muito grande e a partir desse momento ficou dicil dormir.
A cada pouco ouvíamos pessoas andando e conversando pelo parque. Tínhamos a sensação de estar invadindo o canto deles...
Às 2:00 da manha a sensação de insegurança do local nos forçou a tomar a decisão de sair do local imediatamente.
Esperamos as pessoas que estavam nas redondezas saírem e desmontamos o acampamento. Saímos do parque por volta da 4:00 da manhã.
Estava muito frio naquela manhã. Por sorte encontramos um posto de combustível aberto na cidade e paramos lá tomar um café e comer alguma coisa. Ficamos por ali até às 5:30, quando saímos rumo a Colonia.
Estávamos com muito sono e fazia realmente muito frio essa hora. Como ficamos acampados sem ponto de luz, ainda estávamos com as lanternas quase sem bateria. Ou seja, pedalávamos no frio, cansados, com sono e no escuro. Condições nada motivadoras pra quem ainda estava a 60km do fim da jornada.
Apesar disso voltamos para Rota 1 e seguimos viagem. Vinte e cinco quilômetros depois, fizemos uma parada para descansar e vislumbrar o nascer do sol na fria manhã uruguaia.
Apesar do belo cenário, logo voltamos a pedalar para não deixar esfriar o corpo. A essa altura o sono, misturado ao cansaço, era tão grande que nas descidas também tínhamos que nos manter pedalando para não haver risco de "dormir no volante".
Aos 50km, mais uma breve parada.
Colonia estava próxima. Já podíamos ver as palmeiras que anunciam a chegada a cidade.São mais de 10km de lindas árvores plantadas em todo entorno da rodovia (Foto).
Por volta das 9:00 horas, finalmente, chegamos ao ponto final da nossa expedição. Foram horas e horas sobre a bike para chegar até essa cidade histórica. E ela merecia ciclistas mais bem dispostos à conhecê-la. Então, devido a todo o ocorrido, a primeira coisa que fizemos ao chegar na cidade foi procurar um camping, armar "las carpas" (barracas em espanhol), tomar um banho e dormir.
Acordamos por volta das 14:00 e então fomos almoçar, também fomos até a rodoviária para programarmos a nossa volta e, finalmente, saímos para conhecer a cidade.
Passeamos por todas as ruas históricas e tiramos muitas fotos.
Também paramos tomar uma merecida cerveja para brindar o momento.
Quanto a cidade em si, Colonia Del Sacramento não nos pareceu tão monumental quanto imaginávamos.
Apesar disso é uma rota turística bem explorada. Encontramos muitos brasileiros por lá inclusive.
Após uma tarde "turística" paramos num bar e aproveitados para jantar. Pedimos uma pizza. Lá o dono do bar veio conversar conosco e nos falou do seu filho, Diego Morales, que já está a mais de 300 dias pedalando. Segundo o orgulhoso pai, o objetivo do seu filho de 23 anos é tocar todos países da América com sua Scott. Nós, que ficamos apenas 10 dias pedalando, podemos dizer com toda certeza que é um feito admirável.
Por fim, voltamos ao camping. Pedro e Felipe fizeram amizade com alguns ciclistas argentinos que também estavam acampados e trocaram uma camisa do Pedal Xaxim por uma do grupo argentino.
Ficamos mais um tempo curtindo a tranquilidade do camping, mas logo fomos dormir para carregar melhor as energias.
Dia 11 - Colonia Del Sacramento
Após um dia de jornada dupla, quase sem dormir, tivemos uma ótima noite de sono. Vale a pena destacar mais uma vez a tranquilidade nos campings uruguaios. São realmente lugares onde se pode relaxar com a família e com os amigos, sem ter que escutar a música do carro do vizinho, como é costume Brasil, por exemplo.
Acordamos tarde pela primeira vez durante os últimos dias. Fomos comprar um pão para o café, mas infelizmente a mercearia próxima ao camping não aceitava nem reais e nem cartão de crédito e só nos restavam 40 pesos, insuficiente para o pão.
No entanto, a dona da mercearia vendo nossa situação gentilmente nos ofereceu o pão do dia anterior de graça e, com os 40 pesos, pudemos compra um pote de doce de leite. Estava garantido o café.
Tranquilamente comemos e passamos a manhã no camping. Por volta das 11:00 começamos desarmar as barracas pela última vez nessa expedição.
Com tudo pronto para a saída, passamos num mercado para comprar algo rápido para comer e conseguir algumas caixas de papelão para envolver as bicicletas durante o transporte no ônibus.
A companhia de ônibus que pegamos carrega só 2 Bikes por viagem. Então o Pedro pegou o ônibus de Colonia para Montevideo uma hora antes que eu e o Felipe, embarcando às 15h. Por isso, desmontamos e embrulhamos primeiro a bike do Pedro e depois terminamos as outras 2.
Em Montevideo necessitamos trocar de ônibus para partir de volta destino ao Chuí. Mas nesse bus, felizmente pudemos carregar as 3 Bikes no mesmo bagageiro.
A Expedição Uruguai está chegando ao fim. Ainda teremos longos 1000km a serem percorridos de carro até Xaxim. Mas em resumo, isso foi tudo que aconteceu durante nossa trip.
Agradecemos a todos que acompanharam, curtiram ou que comentaram nossas postagens.
Apesar dessa página ser apenas um relato pessoal da nossa aventura, ela foi a melhor forma que encontros de permitir que nossos familiares e amigos, que pedalam ou não, também pudessem nos acompanhar e se sentir conosco nessa viagem.
Isso só foi compartilhado por causa disso. Não imaginávamos que tantas pessoas pudessem achar essa ideia tão legal a ponto dela ir parar no jornal. Ou seja, se você chegou até essa parte desse texto ou você é nosso familiar ou é nosso amigo ou realmente gosta muito de pedalar!
De qualquer forma, obrigado a todos.
E tomara que tenham mesmo se sentido conosco durante esses
dias, pois nós realmente percorremos toda costa Uruguaia levando vocês na bagagem.
Ainda faremos um ultimo post, mas sem relatos. Só comentando o sentimento e aprendizado da viagem.
Queremos agradecer melhor os parceiros como a Hike Bike, por exemplo. Também queremos falar no último post sobe dicas pra esse tipo de aventura, pois muita coisa do que lemos em blogs enquanto nos preparávamos pra viagem não acontecem na prática. Então penso que é importante relatar a nossa experiência nesse sentido pra alguém que futuramente se proponha a fazer algo do gênero.
Aproveito pra pedir desculpas pelos eventuais erros de português e concordância de um matemático. Escrever não é o meu forte nem em condições normais, imaginem fazer um relato de viagem num celular e com o seu ma***to corretor ortográfico. Mas no fim, acredito que deu pra passar a mensagem.
Antes de finalizar a parte pessoal, quero apenas reconhecer de forma
especial as nossas amadas esposas e namoradas que vivenciaram conosco toda preparação da viagem e nos apoiaram em todos os momentos, antes e durante nossa aventura. Não é por acaso que amamos vocês.
Forte abraço a todos!
Uruguai
17/02/2015