11/05/2020
Os tempos estão mudando
O tempo é implacável. Todas as grandes nações, todos os grandes heróis, profetas, guerreiros e sábios, tudo o que é humano um dia sucumbe ao tempo. E como o que acontece no micro reflete aquilo que ocorre no macro, aqui no micromundo as coisas também passam. Passam, e se renovam.
Pelo menos em sua fase digital, o micronacionalismo surge nos grupos de email e, depois, migra para os fóruns. Em comum, eles tinham a possibilidade de isolar seus cidadãos em pequenas comunidades com agitada vida doméstica e quase nenhuma interação externa, já que era complicado estabelecer uma arena onde os vários projetos micronacionais pudessem coexistir. Muitos daqueles que viveram essa época são pródigos em dizer que “aqueles eram os bons tempos” ou “aquele é que era o verdadeiro micronacionalismo”, e eles não estão errados.
Ocorre, porém, que o tempo passou e as novas tecnologias abalaram as estruturas do velho micromundo. Os adolescentes que tinham todo o tempo do mundo para as suas simulações micronacionais precisaram abandonar títulos pomposos e cargos públicos importantes para se ocuparem de suas faculdades, namoros, empregos e famílias macro. Poucos, muito poucos, foram aqueles que realmente conseguiram equilibrar os dois mundos. Se não bastasse, o velho mundico foi arrasado pelas novas redes sociais e, pouco a pouco, o Facebook, o Messenger, o Whatsapp e, mais recentemente, o Discord foram dizimando as trocas de e-mail e substituindo os fóruns, apenas alguns poucos projetos ainda se apegam a seus antigos espaços como náufragos desesperados agarrados aos restos do barco que já naufragou.
Se as antigas plataformas tecnológicas privilegiavam o isolamento das micronações e a sua vida doméstica, as novas redes sociais favorecem o encontro entre as diferentes formas de se fazer micronacionalismo. Se, no passado, as possibilidades tecnológicas forçaram as micronações para dentro delas mesmas, as novas ferramentas exigem que elas necessariamente coexistam e se relacionem entre si.
Não é fácil para muitos dos micronacionalistas mais antigos, sobretudo para aqueles que estavam afastados enquanto essas mudanças aconteciam, compreenderem que o nosso hobby mudou. A maioria deles aprendeu as novas regras e se adaptou, outros deles, porém, em uma posição reacionária, negam as mudanças, e se agarram a modelos micronacionais passados que não encontram mais espaço nesses novos tempos. Algumas dessas pessoas acabam se tornando agressivas em relação aos mais novos, mantendo posicionamentos isolacionistas, em uma tentativa inglória de deter a fúria dos tempos.
Não que a mudança por si só seja boa, no entanto, ela é inevitável e vencerá a todos nós. Por isso, é mister nos adaptar e nos preparar para tirar dela o melhor possível. Precisamos realmente resgatar a vida doméstica de nossas micronações, precisamos realmente atuar no sentido de coibir o surgimento de novos projetos toscos e insignificantes, os quais depõem contra o nosso hobby, precisamos urgentemente melhorar a qualidade de nossos documentos, de nossa heráldica e de nossos dispositivos. Mas isso não basta, pois mais que tudo precisamos compreender que a prática micronacionalista agora é plural, ela é tolerante e baseada no respeito. Espaço para o exercício da convivência entre modelos micronacionais e entre pessoas diferentes.
A era da hegemonia das grandiosas micronações ficou para trás, vivemos agora a era da diplomacia e da multilateralidade. Pelo menos, até que os novos tempos batam também à nossa porta.
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Expediente
Revista digital - O Olho do Observador
Produzida no Reino da Escandinávia
Esta revista traz análises da política e das relações internacionais no micromundo sobre um olhar nórdico. Ela defende o multilateralismo nas relações diplomáticas, e um hobby micronacionalista mais plural, diversificado e tolerante.
Comentários agressivos, obscenos e intolerantes serão deletados.