18/10/2012
A Escada da Pedra do Baú
Falar da Pedra do Baú é como falar de um grande amor. Aquele que f**a para sempre, sedimentado; assim como a própria natureza de uma pedra que encanta e fascina a todos que tem o privilégio e oportunidade de contemplar ou conhecer de perto esta maravilha de nossa região. Mas, imaginem então, a fascinação de quem teve a ideia de explorar e construir a escada de ferro que dá acesso ao seu topo: os irmãos Cortez de São Bento do Sapucaí, com total apoio do Dr. Luiz Dumont Villares (1899-1979), pioneiro da indústria de elevadores no Brasil e sobrinho de Santos Dumont, irmão de sua mãe. Tudo a ver com essa vontade de alcançar as alturas e ainda proporcionar a muitos que não teriam a chance se não fossem alpinistas experientes. Até uma casa conseguiram construir lá em cima e é uma pena que tenha sido destruída. O mais importante é que conseguiram fazer com que São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão atraíssem ainda mais aventureiros e esportistas e toda uma indústria turística em torno da fenomenal Pedra do Baú. Quem conhece não esquece, principalmente pela energia que o lugar transmite, desde os primeiros metros da trilha até o seu cume. Muitos pensam em desistir, mas quando vencem os últimos degraus e deslumbram a paisagem, agradecem ao amigo que incentivou e não deixou voltar para trás. Todo medo e cansaço somem de repente, como que hipnotizados pela longínqua vista de 360 graus. E as cores, então? Impossível descrever tamanha beleza e quantidade de matizes que se identif**am. Temos só a agradecer e muito pela empreitada desses pioneiros, verdadeiros heróis que com sua coragem e vislumbramento conseguiram trazer para nossos dias todos os benefícios dessa exploração tão difícil e que não trouxe nenhum retorno financeiro pessoal face ao capital investido na época. Pudemos desfrutar melhor do belo presente que ganhamos da natureza e mesmo quem ainda não chegou perto, vendo-a de longe não tem como não ser atraído pelo seu magnetismo. Os moradores de São Bento do Sapucaí e Campos do Jordão com certeza são mais felizes e orgulhosos de conviverem com esta grande maravilha da natureza.História de FamíliaSegundo Ricardo Lenz, neto do Dr. Luiz Dumont Villares, quando o Hotel Toriba estava sendo construido - que ficou pronto em 1943 - , seu avô tinha o privilégio da vista frontal da Pedra do Baú e sonhava em conquistá-la. Começou, então, nesse mesmo ano a pesquisar uma maneira de chegar até lá e descobriu que em 1940 alguém de São Bento do Sapucaí já tinha atingido tal façanha. De carro, numa época em que só se locomovia de cavalo ou mula, procurou por Cortez, cortando as pequenas e poucas estradas da região. Chegando em uma vendinha, perguntou a um homem se ele conhecia um “tal” de Antonio Cortez, o qual respondeu: “sou eu mesmo”. Começaram, então, a empreitada que era sonho de ambos. Em duas semanas, o Dr. Luiz retornou a São Bento com o intuito de subir a Pedra e chegando lá encontrou Cortez com todas as provisões conforme combinado. O Dr. Luiz custeou tudo, na época já era um industrial de sucesso. Depois da longa caminhada ele chegou na base da Pedra e olhou para cima, enxergando o imenso paredão de pedra, que antes só tinha visto à grande distância. Foi quando ele percebeu que os acompanhantes estavam derrubando uma árvore, que caiu em direção à Pedra e fez um apoio para acessar a primeira plataforma. Nesse momento, Cortez pediu para que o Dr. Luiz fosse subindo pela árvore; ele se assustou e se recusou a ir primeiro, dizendo que não conseguiria e que seria muito difícil. Pediu para Cortez que fosse primeiro e mostrasse como subir pelo tronco, o qual irritado respondeu: “você me contratou para subir a pedra, eu concordei e te trouxe até aqui, agora você vai primeiro e não tem conversa, pode começar a subir”; foi quando sem ter opções começou a aventura e subiu pelo tronco. A subida foi uma aventura indescritível e nada será capaz de narrá-la, porque esta emoção somente eles tiveram. Não dá pra ter noção do tamanho da audácia de subir uma pedra com os equipamentos da época, num ambiente tão inóspito; ainda hoje, com todos os recursos disponíveis, é muito difícil escalar a Pedra . Chegando ao topo, eles f**aram durante um tempo contemplando a enorme beleza da paisagem e então desceram. Novamente em São Bento, Dr. Luiz ainda deslumbrado com a beleza que tinha acabado de ver, resolveu fazer uma proposta ao Cortez, a de construir uma escada para que todos pudessem acessar o topo da Pedra com mais facilidade; perguntou ao Cortez quanto ele lucrava por dia com seu negócio e então dobrou o valor e perguntou se ele podia construir a tal escada. Ele topou e então começou a construir a grande escada que culminaria em uma das mais belas paisagens da Serra da Mantiqueira.A CasaA história da casa é ainda mais interessante. Depois de terem construido a escada, Dr. Luiz teve outra ideia ainda mais brilhante: a de construir uma casa onde as pessoas pudessem passar a noite e ter provisões, como lareira, beliches (treze) e cozinha com fogão. Um lugar para aproveitar ainda mais a beleza do local. Imaginem como deveria ser linda a casa no topo da Pedra, o tamanho do prazer e da vista maravilhosa que você desfrutaria ao amanhecer, de uma maneira confortável. Neste local continha um livro de registro de viagem que era preso por uma corrente e f**ava à disposição de todos que dormiam por lá, o qual foi roubado e a corrente cortada com um tiro. Uma parte da história foi perdida com este lastimável ato. Quem sabe um dia quem pegou resolva devolver este imenso patrimônio histórico. Na próxima edição falaremos um pouco mais sobre essa e outras aventuras e histórias da nossa cidade. Matéria publicada no Jornal Eu Amo Campos do Jordão - Edição comemorativa.