27/05/2024
Depois que voltei ao Brasil em 2000, comecei a pesquisar sobre bambu. Enquanto crescia, meu pai me mandava passar um tempo na fazenda da família todos os verões em Echaporã. Estou muito grato por isso. No entanto, criei uma noção muito romântica de como poderia ser administrar uma fazenda e como ganhar dinheiro com isso. Rapidamente descobri que a agricultura tradicional e mecanizada da região beneficiava principalmente agricultores ricos e grandes multinacionais. Este sistema não só prejudicou o solo e o ambiente, mas também as famílias.
Meu pai investiu a maior parte do seu dinheiro e dos meus ganhos recentes no setor de tecnologia nos Estados Unidos e deu-os a alguns membros da família para desenvolverem uma unidade industrial de secagem de grãos. Nos trinta anos seguintes, ele acabaria por perder quase todo o seu dinheiro nestes empreendimentos agrícolas tradicionais.
Mais tarde, descobri que a falta de planeamento e a péssima administração foram os culpados pela sua ruína. Eles reclamaram dos políticos e da política agrícola brasileira ou atribuíram a culpa ao mau tempo. De alguma forma, o dinheiro nunca foi suficiente para sobreviver! Um dia, meu tio me pediu que voltasse aos Estados Unidos para “ganhar alguns dólares e mandá-los de volta para nós”. Este momento de frustração tornou-se um ponto de viragem, pois comecei a procurar alternativas com determinação e resiliência renovadas.
Foi então que conheci Emanuel, um talentoso arquiteto e designer que criou um sofá a partir de um Fusca. Mais tarde, encontrei o pai de Matheus, Enxadão, que havia feito uma grande cadeira indonésia "estilo Bali" com bambu gigante. Esses encontros despertaram meu interesse pelo bambu como material versátil e único. Isso me levou a iniciar meu primeiro negócio, fazendo luminárias de bambu com amigos e exportando-as para os Estados Unidos. Embora tenha cometido muitos erros e sido inicialmente ingênuo, aprendi e amadureci como empresário com o tempo.
Para encurtar a história, ao longo de duas décadas, descobri que o bambu é um material incrivelmente versátil e ecológico. Conectei-me com pesquisadores de todo o mundo e conheci pessoas como Raphael Vasconcelos, Paulo Bustamente, Marcos Pereira e Gert van Delft, todos envolvidos em trabalhos relacionados ao bambu. Até viajei para a China, obtive um diploma em bambu e conheci pessoas incríveis de diversas áreas. Apesar de não ganhar dinheiro com meus esforços relacionados ao bambu, continuei comprometido com meu sonho de usar esse material sustentável no Brasil.
Esta longa jornada de mais de duas décadas ensinou-me que a verdadeira realização não reside apenas no ganho monetário, mas na prossecução das próprias paixões. A resiliência que cultivei, o conhecimento que acumulei e a rede que construí são tesouros inestimáveis. Estou profundamente grato por essas lições. O bambu, com seu rápido crescimento, adaptabilidade e benefícios ambientais, reflete minha própria jornada. Simboliza esperança, perseverança e o poder dos sonhos, e sou grato pela oportunidade de compartilhar isso com você.
Ao olhar para o futuro, imagino um Brasil onde o bambu floresça, não apenas como um recurso sustentável, mas como um catalisador para mudanças positivas. Ao adotar este material versátil, podemos criar um futuro mais brilhante, mais verde e mais equitativo para as gerações futuras. Hoje percebo que minha teimosia foi um poder transformador de paixão, resiliência e crença inabalável em meus sonhos. É um lembrete de que mesmo em meio a contratempos, o espírito humano pode elevar-se, como o bambu, para alcançar novos patamares, trazendo esperança e promessa à nossa jornada.