30/05/2021
O MISTÉRIO DO GLOBO DE MATÉLICA
Encontrei o assunto de que trataremos hoje, no interessante site www.duepassinelmistero.com , uma entrevista com Danilo Baldini (ativista do Archeoclube local, cuja principal tarefa era "fiscalizar" as escavações e as obras no município) por Marisa Uberti, e melhor compreendido com auxílio do vídeo de reconstrução 3D da Direzione Regionale Musei Marche.
Matelica é uma pequena cidade (comuna), na província de Masserata, Itália Central, com pouco mais de 10.000 habitantes, que se notabiliza por um respeitável acervo arquitetônico e arqueológico, dentre eles o Teatro de Matelica inaugurado em 1812 e o Globo de Matelica, além de produzir vinhos D.O.C de uvas Verdicchio. Para conhecer mais sobre Matelica, visite https://www.destinazionemarche.it/cosa-fare-e-vedere-a-matelica/ .
Em 1985, durante as obras de restauro arquitetônico no Palazzo Pretorio, que data do século XIII, Baldini fez uma de suas visitas rotineiras à obra e constatou que havia sido encontrada uma esfera de mármore grego. Tinha 30 cm de diâmetro, gravada em baixo relevo com linhas, 3 círculos concêntricos e 13 pequenos furos, letras e símbolos, à qual se atribui hoje ser do século I ou II a.C.
Examinando-a, Baldini embora não tivesse formação em arqueologia (é agrimensor), intuiu tratar-se de um achado ímpar. Foi encaminhada ao Museu Piersanti onde permaneceu guardada em depósito por 3 anos, antes que ele obtivesse autorização para estuda-la.
Na primeira imagem, vemos uma representação do Globo se Matelica em 3D e a partir desta faço a descrição.
A linha que circunda o globo e o divide em metades (equatorial), corresponde ao Equador terrestre , à Latitude zero.
Na continuação vamos tratar do hemisfério superior, Norte. A linha vertical que divide este hemisfério em metades, é um meridiano e com centro neste, três círculos concêntricos. Por este centro passa um semicírculo aberto para o Norte, cujo raio é igual à distância entre o centro dos círculos e a intersecção do círculo maior com a linha meridiana.
Concluindo a descrição: partindo da intersecção da linha meridiana com a equatorial e sobre aquela, a 90º um furo; à sua esquerda e direita no mesmo alinhamento, 6 outros furos (definindo 6 divisões correspondentes a 15 graus cada) até encontrar a linha equatorial, tanto para Leste quanto para Oeste (90 graus).
O centro comum dos círculos é a localização de Matelica no Globo e corresponde à uma distância da linha equatorial (latitude) de 44,9 graus que comparada com a latitude real de 43,22 graus, é um feito admirável para a Cartografia que ainda engatinhava, e que teria sido desenvolvida pelos Sumérios alguns séculos antes.
E como se fazia a leitura? Imagine uma esfera sendo iluminada por uma lanterna LED. A porção iluminada será exatamente a metade, definida pela intersecção de um plano perpendicular à fonte de luz e no ponto de maior diâmetro. Imediatamente além desta linha não haverá iluminação, haverá Sombra. Quando a fonte de luz é extensa, o Sol por exemplo, ocorre a formação da Penumbra no limite da Sombra. Esta transição é o indicador da leitura, na medida em que tangencia as figuras geométricas descritas.
A princípio, Baldini não sabia por onde começar, pois nunca tinha visto nada parecido em sua vida, em nenhum livro ou ilustração e, portanto, não tinha termos de comparação. Na verdade, esses círculos e aqueles escritos, poderiam ser simplesmente uma expressão puramente decorativa, sem propósito de uso. Porém Baldini tinha convicção de que aquele objeto se destinava a um uso prático, ou seja, que era uma "ferramenta" e que havia sido projetada e construída para "servir" a algo.
Sempre pensando na geometria da esfera e na Terra, observou que esta, ao ser atingida pelos raios do sol,
f**a metade iluminada e a outra metade na sombra. Da mesma forma este "conceito" poderia ser transferido para o Globo, sendo ele também uma esfera, ou seja, uma "Terra" em miniatura.
Um belo dia, buscando entender como funcionava, experimentou expor o Globo ao sol pleno, com a face dos círculos concêntricos em oposição (orientado ao Norte), constatando que a "fronteira" entre a luz e a sombra cortava os 3 círculos concêntricos em pontos específicos, e que correspondia ao "momento" em que o Sol entrava em alguma das constelações.
Da mesma forma também foi possível obter o "calendário" com os dias e meses do ano, que obviamente não eram como os atuais, mas coincidiam justamente com a entrada do sol nas 12 constelações. Ao mesmo tempo, o Globo fornecia informação sobre a durações do dia e da noite para todas as datas do ano também, avaliadas de pronto e visualmente.
Nesse ponto, pode-se dizer que o "mecanismo" do Globo havia sido revelado.
Para facilitar a compreensão da descrição acima, veja o vídeo em https://youtu.be/W1fmTWEJkK8 , e consulte http://www.antiqui.it/archeoastronomia/globo.htm , "Description of Astronomical calculus of globe", by Andrea Carusi and Danilo Baldini, from l'Astronomia n. 92 (October 1989) pp. 30-38. Desvendadas as funções do Globo, este continuou a ser mantido em um porão do museu e fechado à exibição do público. Por não ser um "Prof." ou um "Dr.", quase ninguém "acreditou" na interpretação do achado, incluindo o diretor do museu.
Baldini então, escreveu para "Em Busca da Arca” no RAI 3, um famoso programa de televisão à época, dando conta da descoberta e daí, em 15 de maio de 1988, toda Itália e os cidadãos de Matelica tiveram a surpresa de conhecer o extraordinário Globo de Matelica, um relógio de sol único, capaz de indicar ao mesmo tempo e com considerável precisão (para a época em que foi construído) as horas do dia, o calendário, as datas dos Solstícios e Equinócios, a entrada do Sol nas várias constelações do Zodíaco, a duração do dia e da noite em todas as datas do ano, tudo numa configuração esteticamente simples, mas essencial, em perfeita harmonia com o pensamento grego.
Cabe observar que em 1939 foi encontrado em Prosymna, uma localidade próxima a Argos e Micenas, na Grécia , um achado esférico semelhante, também de mármore branco, com várias semelhanças e com o dobro do tamanho do de Matelica. Nele há o mesmo número de orifícios com as letras dos numerais gregos próximos a eles e dispostos da mesma maneira. No entanto, as configurações e diagramas gravados na superfície do Globo Prosymna são muito diferentes. O Globo de Prosymna, mais antigo, apresenta três sistemas de medição de tempo diferentes, criando uma rede de linhas muito complicada, o que torna sua interpretação difícil.
Até à data não há notícias da existência de outros achados semelhantes e, uma vez que os dois globos são diferentes um do outro, podemos considerar o Globo de Matelica como um "unicum" da sua espécie!
Pode-se afirmar com segurança que foi projetado e construído para ser usado em Matelica . Portanto, não é uma relíquia trazida da Grécia na época dos romanos, pois pela diferença de latitude não funcionaria corretamente.
Baldini observa que dado seu pequeno tamanho, o Globo não foi construído para "marcar as horas" em uma praça pública. Deve ter sido para uso privado, talvez por um astrólogo para elaborar horóscopos, mas neste caso, outras esferas semelhantes deveriam ter sido encontradas em outras cidades italianas, europeias, do Oriente
Médio, etc., já que a antiguidade estava cheia de astrólogos e adivinhos.
Em vez disso, defende a hipótese de que na antiga "Matilica" romana uma escola havia sido estabelecida, um colégio, onde, além de disciplinas como filosofia e geometria, também era ensinada astronomia, e os fundadores desta escola devem ter sido gregos, visto que eram verdadeiros mestres dessas ciências.
Para concluir, um outro fato interessante é que suas dimensões são proporcionais, em escala reduzida, às da Terra, como se seus criadores quisessem construir um "modelo" de nosso planeta, que talvez já soubessem ser esférico! De fato, no Globo de Matelica, a medida de sua circunferência é 7 vezes e meia a do círculo maior, que mede a distância entre os Trópicos. Da mesma forma, na Terra, o comprimento do equador é 7 vezes e meia maior que a distância entre o Trópico de Câncer e o de Capricórnio.