04/10/2016
História de Paty do Alferes
Em 1700, Garcia Rodrigues Pais, filho de Fernão Dias Paes Leme, o Caçador de Esmeraldas, abriu o Caminho Novo ligando as Minas Gerais e o porto do Rio de Janeiro. Este caminho passaria, nos anos seguintes, a ser a principal rota de comunicação de escoamento do ouro produzido nas Minas Gerais e o rota dos imigrantes para o interior, substituindo o antigo caminho, que terminava em Parati.
Pati do Alferes começou, então, a se desenvolver em ritmo acelerado no século XVIII a partir da ocupação de terras da sesmaria de Pau Grande. Viajante como Monsenhor Pizarro e Frei Antonil percorreram o Caminho Novo no século XVIII e deixaram descrições de uma região que apenas servia de passagem entre o porto do Rio de Janeiro e as ricas Minas Gerais, com grandes florestas virgens e com índios coroados que pôr elas perambulavam. Frei Antonil descreveu sua viagem no livro Cultura e opulência do Brasil, datado de 1711, no qual cita a sesmaria de Pau Grande (no atual distrito de Avelar) como uma roça que principiava a ser desbravada em plena selva. Muitos sesmeiros logo se agruparam em torno deste primeiro núcleo.
Acredita-se que o nome Pati do Alferes venha da união do nome do posto militar de alferes (no Brasil, equivalente ao posto de segundo-tenente) ao vocábulo indígena dado a uma palmeira abundante na região - o pati - que começou a se delinear as margens do Caminho Novo. Ademais, registros históricos apontam para dois alferes de ordenança, Leonardo Cardoso da Silva e Francisco Tavares (depois capitão), cujas propriedades viriam a ser conhecidas como Roça do Alferes. Também havia muitos patis que davam nome a toda região desde a serra até as margens do Rio Paraíba do Sul. O nome vem do tupi árvore que se eleva, designando uma palmeira da família Syagrus (Syagrus pseudococos), também chamada de palmito-amargoso. Ao longo dos anos, a grafia foi alterada para paty e finalmente para pati. Assim, a antiga Roça dos Alferes passou a ser chamada de Pati do Alferes para distinguir-se da localidade de Pati, atual Andrade Pinto, em Vassouras.
O Capitão Francisco Tavares era o dono da fazenda onde se ergueu a primeira capela da região. O Bispo Antônio de Guadalupe, em uma viagem em 1726, transformou a localidade em curato para melhor atender espiritualmente os cristãos da região. O Capitão Francisco Tavares doou, depois, o terreno em que foi erguida a primeira igreja matriz, no ano de 1739, criando-se, assim, a freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Alferes.
As terras férteis banhadas pelo Ribeirão de Ubá e pelo Rio do S**o primeiro acolheram o plantio da cana-de-açúcar e a criação de porcos, cuja carne era salgada e vendida no Rio de Janeiro. Também eram vendidos mantimentos aos viajantes que seguiam pelo Caminho Novo.
A freguesia de Conceição do Alferes foi elevada ao posto de vila por um alvará expedido pelo rei Dom João VI em 4 de setembro de 1820. Entretanto, apesar das fazendas de café cada vez mais prósperas, o povoado contava com apenas quatro casas. Além disto, havia uma disputa política entre os dois maiores proprietários da região, o capitão-mor Manuel Francisco Xavier, da Fazenda Cachoeira e o sargento-mor, depois padre, Inácio de Sousa Vernek, da Fazenda Piedade. A briga familiar, que durou até 1824, fez com que vários colonos deixassem a região. O primeiro presidente da Câmara Municipal (equivalente hoje ao cargo de prefeito) foi Laureano Correia e Castro futuro Barão de Campo Belo.
O cientista Auguste de Saint-Hilaire passou pela região em 1823 e a descreveu no livro Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, relatando minuciosamente as construções, os hábitos e a tecnologia usada para a manufatura do açúcar nas fazendas e engenhos da região. A plantação de café substituiu rapidamente a cana-de-açúcar, com intensa derrubada de florestas virgens. O clima propício, as terras férteis nunca antes cultivadas, adubadas pelas cinzas das queimadas e a mão de obra composta na maior parte pôr escravos africanos jovens foram os fatores que permitiram a alta produtividade das lavouras de café de Pati do Alferes no meio do século XIX. Os lucros foram crescentes, com o aumento contínuo do consumo de café na Europa e nos Estados Unidos, o que tornou os fazendeiros da região pessoas muito ricas.
Entretanto, o crescimento urbano ocorreu mais acelerado na então freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Vassouras, na beira da recém-aberta Estrada da Polícia, enquanto que, na vila de Conceição do Alferes, o crescimento ocorreu na zona rural, dentro dos limites das grandes fazendas. Considerando tal fato, em 1833, os vereadores concordaram em transferir a sede da vila para a localidade de Vassouras e Conceição do Alferes voltou a ser uma freguesia, embora seus fazendeiros tenham permanecido atuando ativamente na política local.
O grande crescimento econômico aumentou a necessidade de mão de obra e intensificou o tráfico de escravos africanos. Em 1838, houve uma fuga em massa de escravos liderados pôr Manuel Congo que espalhou medo entre os fazendeiros. A revolta foi duramente reprimida pela Guarda Nacional sediada em Valença e comandada pelo futuro segundo Barão de Pati do Alferes.
Uma nova Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição foi inaugurada em terra doada pelo capitão-mor de ordenança Manuel Francisco Xavier e sua esposa, Dona Francisca Elisa Xavier, futura Baronesa da Soledade, os mesmos donos da Fazenda Freguesia, atual Aldeia de Arcozelo, onde se iniciou a Revolta de Manuel Congo.
Enriquecida pelas plantações de café, nasceu uma aristocracia rural formada pôr nobres intimamente ligados à corte, como o Visconde de Ubá, o Barão de Capivari, o Barão de Guaribu, dentre muitos outros.
A riqueza do Ciclo do Café é citada em antigos e importantes relatos de viajantes, cientistas e estudiosos que passaram por Pati do Alferes nessa época, como Charles Ribeyrolles, Auguste de Saint-Hilaire, Visconde de Taunay, José Matoso Maia Forte e Alberto Lamego.
Com o esgotamento dos solos e sem matas virgens para derrubar, as plantações de café tornaram-se pouco produtivas. A nobreza rural empobreceu e emigrou. A região entrou em grande decadência econômica no final do século XIX. Iniciou-se, então, a pecuária leiteira e produção de laticínios na região. Imigrantes italianos, alemães e japoneses, embora em pequeno número, introduziram técnicas agrícolas que revitalizaram a economia regional.
O excelente clima da região passou a ser conhecido nacionalmente com a propaganda feita pelo grande médico infectologista, Miguel da Silva Pereira, nos anos de 1930. Muitos turistas procedentes da cidade do Rio de Janeiro começaram, então, a passar temporadas de verão na região.
A Fazenda Freguesia, local da revolta de Manuel Congo, voltou à cena em 1965 quando Pascoal Carlos Magno ali criou a Aldeia de Arcozelo.
Emancipada em 1987, Pati do Alferes mantém uma grande produção agrícola como o maior produtor de tomate do estado do Rio de Janeiro e o terceiro do Brasil.