19/07/2021
VOCÊ SABIA?
A imigração alemã para São Bernardo durante o século XIX.
O surgimento das primeiras colônias de imigrantes alemães no Brasil remonta às décadas de 1810 e 1820 . Na então Província de São Paulo, os primeiros grupos chegaram a partir de 1827, e se estabeleceram no município da capital, fundando colônias em áreas hoje ocupadas pelos atuais bairros de Santo Amaro e Parelheiros e, também, no atual município de Itapecerica da Serra (1). Em 1830, com a criação do município de Santo Amaro, esta região emancipou-se da capital, permanecendo nesta condição até 1935, quando foi reintegrada à cidade de São Paulo. No decorrer do século, imigrantes alemães continuaram chegando na capital. Por volta de 1837, sabe-se que vários deles foram encaminhados para trabalhar na construção da Estrada de Santos, a qual cortava a Freguesia de S. Bernardo (2). Em 1847 já se registrava a presença de alguns alemães com estabelecimentos comerciais na freguesia (3): João Gondorf , casado com Escolástica Dias Vieira, pai de três filhos nascidos em São Bernardo, entre 1843 e 1846; Guilherme Schuman; Cristiano Noé, prussiano estabelecido com venda no Bairro Varginha, possivelmente parente de Gertrudes Noé, a qual, na segunda metade do século, foi comerciante e proprietária de várias pequenas casas na Estrada de Santos, no trecho que hoje corresponde à esquina da Rua Marechal Deodoro com a Rua Padre Lustosa (4); Carolos Alphaz, possuidor de venda no Rio das Pedras. A família Beber, que possui descendentes na cidade até os dias de hoje, reside na região, ao menos, desde 1860, ano em que nasceu Maria, filha de Daniel Beber e Filipina Klem. Estes descendentes de alemães tiveram uma propriedade rural na divisa de Santo André com Mauá, área que posteriormente ficou conhecida como “Sertão dos Beber”. Entre 1885 e 1921, Guilherme Beber Felisbino também foi proprietário de imóvel localizado em uma das esquinas da Rua Marechal Deodoro com a Rua Padre Lustosa, no local onde, muitas décadas depois, existiu a famosa pastelaria ABC (5). Quase que no mesmo período, entre as décadas de 1880 e 1910, Daniel Beber Felisbino foi proprietário de imóveis nas proximidades do atual entroncamento da rua Djalma Dutra com Rua Marechal Deodoro, tendo também, na mesma época, estabelecido um armazém nesta área, e um açougue em outro ponto da principal rua do município. Em 1872, existiam 3731 alemães natos vivendo na província, o que fazia dos teutônicos o terceiro maior grupo de estrangeiros na região, atrás apenas dos africanos e portugueses. Entre estes alemães, dez viviam em São Bernardo (6). Em 1877, a presença alemã em São Bernardo se intensificou muito significativamente com o estabelecimento do Núcleo Colonial São Bernardo. Cerca de vinte anos depois, as linhas coloniais deste núcleo já abrigavam 36 famílias de origem alemã, a maioria delas na região rural do Capivary . Na atual região central do município se estabeleceram as famílias Procop, Kobeisel , Mainel , Richter, Herbst, Prugner, Rathsam e Hembel. As quatro últimas se destacaram como pioneiras da indústria na localidade. Entre 1896 e 1913, Carlos Hembel possuiu uma fábrica de Sabão, cuja localização precisa é desconhecida, mas que , provavelmente, ficava nas proximidades da atual Rua Jurubatuba (7). Carlos Herbst, residia no alto da Rua Dr. Fláquer (8 ), local em que, entre 1900 e 1908, funcionou sua pequena fábrica de cerveja, a qual foi adquirida por Gustavo Rathsam, por volta de 1910. Alguns anos antes, Rathsam havia fundado uma das primeiras serrarias movida à v***r do município, a qual se localizava na região do Capivary. Em 1903, Gustavo enviou uma proposta à Prefeitura Municipal de São Paulo, para fornecimento de andaimes para serem empregados na construção do célebre Teatro Municipal, em uma ação sugestiva da importância e da abrangência das atividades de sua serraria (9). Neste grupo, a figura de maior destaque foi, sem dúvida, a do empresário Carlos Prugner. Nascido em 1847, na cidade de Zwickau, na região da Saxônia, Prugner assumiu uma posição de liderança logo em seus primeiros anos no Núcleo Colonial, gerenciando, desde 1884, uma fábrica de cerveja, e exercendo a profissão de ferreiro, através da qual fabricava facões, machados e foices para os colonos. Apesar de pequena – empregava apenas alguns poucos operários - fábrica de cerveja de Prugner foi o primeiro empreendimento industrial dos colonos de São Bernardo, tendo existido até 1914. Na década de 1900, permanecendo ainda como uma das pessoas mais influentes da comunidade, Carlos foi eleito vereador no município, em três legislaturas consecutivas -1902, 1905 e 1908. Prugner possuiu também uma hospedaria, uma padaria e um salão de bailes em um casarão de sua propriedade, no qual residiu e instalou inicialmente sua fábrica de cerveja. Localizado na esquina da Rua Dr. Fláquer com a Rua Marechal Deodoro – no local onde posteriormente foi construído o Edifício Wallace Simonsen- este casarão foi a sede do primeiro cinema da cidade, o “Cinema Paulista”, fundado em 1911, por Carlos, em sociedade com José D´Angelo (10). A maioria das famílias alemãs emigradas para São Bernardo no século XIX, inclusive algumas entre as que obtiveram destaque na época, deixaram poucos ou nenhum descendente na região, e seus nomes acabaram por desaparecer da memória coletiva local com o decorrer do tempo. Uma das exceções foi a família Bellinghausen, que chegou a cidade por volta de 20 anos depois do surgimento do núcleo colonial, através do ferreiro Guilherme Bellinhausen, que se estabeleceu na Rua Dr. Fláquer. Na década de 1930, os filhos de Guilherme fundaram uma importante fábrica de móveis na região central da cidade, a qual esteve em atividade até por volta de 1980, ajudando a manter viva no munícipio a memória da família, a qual ainda tem vários descendentes no local. Imagens: Acima-> Guilherme Bellinghausen (ao centro) e família. 1900 (c.). Doação: Família Bellinghausen. Abaixo: Carlos Prugner (ao centro) e família.1910 (c). Doação: Família Prugner. Pesquisa e texto: Centro de Memória de São Bernardo do Campo.
Notas:
(1) - Cf. Siriani, Sílvia Cristina Lambert. Uma São Paulo Alemã: vida quotidiana dos imigrantes germânicos na região da capital paulista (1827-1889). São Paulo: Arquivo do Estado. Imprensa Oficial do Estado. 2003. p. 20, 46,57-60.
(2) - Cf. Baldin, Adriane de Freitas Acosta. A presença alemã na construção da cidade de São Paulo entre 1820 e 1860. Tese. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012. p. 61 e 62. Disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP (https://www.teses.usp.br/).
(3) – Cf. Santos, Wanderley dos. Antecedentes Históricos do ABC Paulista: 1550-1892. São Bernardo do Campo, PMSBC, 1992. p.242.
(4) – Cf. Câmara Municipal de São Bernardo. Arrecadação do Imposto Predial (1892-1899). Acervo: Museu de Santo André Dr. Octaviano A. Gaiarsa.
(5) – Cf. Livro de Notas do Escrivão do Juiz de Paz da Freguesia de São Bernardo. p.71-74. Escritura Pública de Compra e Venda. 26 de maio de 1885. Atualmente sob guarda do Cartório do 1º Tabelião de Notas de São Bernardo do Campo.
(6) – Cf. Recenseamento do Brasil em 1872. v.12. São Paulo, Sergipe. Rio de Janeiro. Typ. G. Leuzinger. 1874. p. 23. Biblioteca (online) do IBGE (https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=225477).
(7) – Cf. .Câmara Municipal de São Bernardo. Procuradoria. Impostos diversos (1893-1899).
- Cf. Câmara Municipal de São Bernardo. Imposto de Indústrias e Profissões ( 1911-1923).
(8) – Cf. Livro de Matrícula dos Colonos – Núcleo Colonial de São Bernardo/Sede. Inspetoria Geral de Terras, Colonização, Imigração do Estado de São Paulo. ( 1877/1892). Acervo: Arquivo do Estado de São Paulo.
(9) – Cf. Jornal Correio Paulistano. 3 de dezembro de 1903. p.2.Disponível na Hemeroteca digital da Biblioteca Nacional. (http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/).
(10) – Cf. Jacobine, Jorge Henrique Scopel. Salas de Cinema na Vila de São Bernardo (1911-1930). Revista Raízes - São Caetano do Sul, ano 30 , nº 57. p.117-122, jul 2018.
Acervo: Centro de Memória de São Bernardo do Campo, exceto quando indicada outro mantenedor.
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