Tear Turismo Experiência E Arte

Tear Turismo Experiência E Arte Turismo de Experiência, Turismo Pedagógico , Turismo de Base Comunitária

06/03/2023

Máquina de moer gente

Não houve falha das instituições na hecatombe da semana passada

Eu tinha 16 anos, era inocente, puro e besta —como dizíamos quando eu tinha 16 anos e era inocente, puro e besta — ao desembarcar de um ônibus São Geraldo, após 23 horas de viagem, na praça central de Itaúnas.

Em 1994, a vila de pescadores na fronteira do Espírito Santo com a Bahia tinha só uma pousada e o restaurante da Dona Tereza. (Tereza servia um PF de peixe frito tão demorado que até hoje não sei se era mesmo o manjar dos deuses que me parecia ou se o gozo sobrenatural ao comê-lo vinha das horas de espera).

Em frente à Dona Tereza, toda noite, sob um galpão com piso de cimento queimado, rolava o forró até de manhãzinha. O rei do forró era o Tatu, um caiçara da minha idade, pele dourada e enorme de forte.

Tatu tinha uma canoa construída por ele mesmo e era nela que levava para passeios rio adentro as belas paulistas que os inocentes, puros e bestas como eu cobiçavam –embalde.

Se eu fosse uma bela paulista, também preferiria o Tatu a mim. Ele não era só bonito, forte e fazia canoa: cerzia rede, entendia de marés, caçava polvo no arpão, saía para pescar por dias no alto-mar feito um personagem numa música do Caymmi. Todos os garotos e homens por ali eram assim.

Construíam as próprias casas, os próprios barcos, garantiam a própria comida, tinham suas próprias crenças, festas, mitos e ritos. Uns Leonardos da Vinci, "uomini universali" autossuficientes da vida praiana.

Nascido e criado em São Paulo, eu nunca tinha visto pobreza econômica aliada a tamanha riqueza cultural. Minha experiência litorânea resumia-se basicamente a Ubatuba e São Sebastião. A rodovia Rio-Santos, com pouco mais de vinte anos, já tinha conseguido transformar quase todas as comunidades caiçaras de São Paulo em startups de aculturação, em incubadoras de caseiros, garçons e piscineiros para os ricos paulistas.

Nas praias que eu frequentava, os caras da geração do Tatu já estavam todos do jeito que o rico de São Paulo gosta, de uniforme e cabeça baixa, sem saber fazer canoa ou navegar, falando "sim, senhor, não, senhor, desculpa qualquer coisa, senhor". (Essa castração existencial a que chamamos, orgulhosos, de "qualidade nos serviços" —o contrário do Rio, com aqueles pobres tão mal adestrados.)

É impressionante a imutabilidade da história brasileira. A nossa elite é incapaz de viver sem a dependência permanente de uma senzala. (Aliás, não bastaram os caiçaras, ainda foi necessário trazer milhares de migrantes nordestinos para abrir os guarda-sóis dos veranistas).

Eu penso muito antes de escrever coisas como "o rico de São Paulo" ou "a nossa elite" ou "senzala". Parece discurso fácil em centro acadêmico, mas o que posso fazer se a realidade brasileira é um clichê, do Borba Gato à Barra do Sahy?

Não houve falha das instituições na hecatombe da semana passada. É o contrário. As nossas instituições existem há 523 anos justamente para manter rico em conforto e segurança de um lado e pobre do outro, amontoado do jeito que der. Parte da culpa pela desgraça pode ser atribuída ao aquecimento global.

A outra parte é fruto do que o Darcy Ribeiro chamava da nossa "máquina de moer gente". Um sistema muitíssimo eficiente que em poucos anos faz vigorosos argonautas naufragarem em terra firme (sic).

Por esses dias tenho pensado muito em Itaúnas e no Tatu. Que rumo terão tomado? Será que os filhos do Tatu sabem construir canoa, aguentam caçar polvo no pulmão, navegam por alto-mar? Ou será que o turismo (do qual eu fiz –faço— parte) já se encarregou de agarrá-los pelas bolas e arrastá-los à parte que lhes cabe destes latifúndios?

Antônio Prata - ontem na Folha de São Paulo
Compartilhado do Laerte Willmann
Foto de Marcel Gautherot

Obs: A foto é ilustrativa, do grande fotógrafo Marcel Gautherot , nascido em Paris em 1910 e radicado no Rio de Janeiro desde fins de 1940, que retratou todas as regiões do país, tornando-se nome central da história da fotografia brasileira.
Seu vasto campo de interesse abrangia muitos assuntos, entre eles manifestações culturais e os trabalhadores.

27/02/2023

Chico Mendes inspirou e inspira gerações de ativistas. Uma de suas reflexões mais importantes, bem conhecida, é:

"Ecologia sem luta de classes é jardinagem".

Que tipo de Educador Ambiental pode abrir mão disso?

Dada a absoluta gravidade da conjuntura socioambiental, diante de níveis de devastação e contaminação nunca vistos, do irreversível das Mudanças Climáticas, quando estamos diante de Extremos Climáticos que já se antecipam a inúmeros prognósticos, não cabe mais superficialidade e alheamento nas abordagens educadoras.

Tampouco cabem separações. Não há debate sobre natureza que não envolva leitura política. Não há relação educadora com a sociedade, se não envolve economia, trabalho, saúde, mudança e emancipação de hábitos sob leitura crítica dos modos de produção vigentes.

A tal consciência de consumo não pode ser reduzida à leitura de rótulos e reciclabilidade de embalagens!

Por isso, lutamos por uma Educação Ambiental Popular, Crítica, Política e Mobilizadora!

Por Educação para o Consumo Crítico, Mudança e Emancipação de Hábitos!

Por um posicionamento consistente contra modos de produção ecocidas, inaceitáveis, insustentáveis, antiecológicos!

Veja, aqui: links para todas as lives do Ciclo "Consumo Crítico, Mudança e Emancipação de Hábitos".
https://web.facebook.com/photo/?fbid=192447920046198&set=a.122694560354868


Ação Clima Popular é um projeto de popularização da pauta climática.

Apoie esta iniciativa! Curta a página!
Compartilhe os conteúdos!

Fortaleça este projeto independente apoiado por contribuições voluntárias - PIX: (13)981914421

https://web.facebook.com/acaoclimapopular
https://www.instagram.com/acaoclimapopular









Acompanhe nossa página, a programação de lives e ações diretas!

A TEAR se orgulha de levar estudantes por este Brasil afora para conhecer ao vivo e em cores e sabores estes desafios.E ...
13/11/2022

A TEAR se orgulha de levar estudantes por este Brasil afora para conhecer ao vivo e em cores e sabores estes desafios.
E agradece a todas as comunidades tradicionais visitadas por tantas aulas sobre resistência, resiliência, organização, luta, arte, farmácia viva, agroecologia, sustentabilidade e tantas outras sabedorias populares.

As pousadas, as comidas e as pessoas do Peruaçu.
03/06/2022

As pousadas, as comidas e as pessoas do Peruaçu.

Os caminhos do Peruaçu.
02/06/2022

Os caminhos do Peruaçu.

O Meta-Verso feito à mão.Estar no mesmo mês em ao menos 5 lugares, estados, cidades, comunidades diferentes, sempre foi ...
01/06/2022

O Meta-Verso feito à mão.
Estar no mesmo mês em ao menos 5 lugares, estados, cidades, comunidades diferentes, sempre foi minha rotina, sempre acompanhada com ao menos mais 30 pessoas que eu levava nas caminhadas.
As lembranças, fotos, papos, fogueiras, cachoeiras, rios, mares e aves que cruzavam meu caminho me transformavam e eu seguia, mal dava tempo de registrar, fotografar, catalogar e postar tantas vivências.
Não é à toa que estas redes sociais mal são compreendidas já estão ultrapassadas, haja tecnologia para transformar sensações em sensações...
Vamos lá, agora estou aqui sentada na cadeira de pijama tentando transformar meus conhecimentos/sentimentos/universos em versos, versos que não são os das poesias e nem dos avessos mas que também podem ser.
A TEAR Turismo Experiência e Arte criou finalmente sua página no Insta, um dia a gente chega no Meta. Segue lá.
https://www.instagram.com/tearturismo/

Ô saudade das nossas viagens.
26/01/2022

Ô saudade das nossas viagens.

  Saudade boa de 2015.Saímos com um grupo de estudantes para uma viagem de estudos no sul da Bahia.Perguntei para o Jard...
04/11/2021

Saudade boa de 2015.
Saímos com um grupo de estudantes para uma viagem de estudos no sul da Bahia.
Perguntei para o Jardim de Infância Waldorf de Caraíva se estavam precisando de algo que pudéssemos contribuir na nossa passagem por lá. Disseram que precisavam de um portão e uma cerca para evitar que as crianças fossem em direção a asfalto.
Fizeram o projeto.
Nós calculamos juntos qual seria o material necessário.
Encomendamos tudo em um material de construção local para entrega antes da nossa chegada.
Foi lindo!!

SALAS DE AULAUm abraço apertado aos professores que me acompanharam em tantas viagens na busca de paisagens e de pessoas...
15/10/2021

SALAS DE AULA
Um abraço apertado aos professores que me acompanharam em tantas viagens na busca de paisagens e de pessoas com conhecimentos transformadores.

Endereço

Rua IPERÓ
São Paulo, SP
04708-001

Notificações

Seja o primeiro recebendo as novidades e nos deixe lhe enviar um e-mail quando Tear Turismo Experiência E Arte posta notícias e promoções. Seu endereço de e-mail não será usado com qualquer outro objetivo, e pode cancelar a inscrição em qualquer momento.

Entre Em Contato Com O Negócio

Envie uma mensagem para Tear Turismo Experiência E Arte:

Compartilhar


Outra Agência de viagens em São Paulo

Mostrar Tudo