24/03/2022
SÃO JORGE
Há um povo corajoso que vive numa ilha em forma de dragão. É um povo tímido e reservado, sem excentricidades e recatado que vive em cima de rochas vulcânicas e da pedra faz jardins, lagoas, pastos, muros de hortenses e até uma praça central com um coreto encarnado. É um povo sossegado e low profile que pescou baleias, que enfrentou piratas, e que diz-se que quando os Felipes invadiram Portugal morou no único pedacinho de terra onde, à socapa, continuou a circular a moeda portuguesa. Isso fez com que, no arquipélago, fossem conhecidos como os "patacos falsos".
Há um povo que não reclama com a chuva ininterrupta, com a humidade sempre alta, com o calhau em vez de areia nem com as estradas estreitas a descer as fajãs. Adapta-se e segue
Há um povo generoso que oferece comida a quem passa, que toca viola da terra, que adivinha a metereologia dependente de se o pico do Pico está a usar um chapéu branco, que brinda com angelica e para quem o Natal só é natal quando o "menino mija"
Há um povo crente no Espírito Santo, a quem dedica promessas, comida em mesas postas na rua ou procissões com bandas filarmónicas a tocar e crianças pequenas com coroas na cabeça.
É também da fibra deste povo da terra e do mar que descende a minha filha.
Deste povo e de um faroleiro, um carpinteiro, um comerciante, uma feminista e muitos pescadores que descende a Ana, metade açoriana, metade Jorgense.
Há um povo corajoso que não tem medo de sismos com origem tectônica ou vulcânica porque tem no seu sangue lava, céu, mar e poesia
Bravos Jorgenses: vai passar! Nada vos consegue derrubar!