Entre a serra e o mar, irrigada pelas águas do Rio Mira, que percorre vales férteis e se vai juntar ao oceano em Vila Nova de Milfontes, o Concelho de Odemira é um manto de paisagens exuberantes e de locais aprazíveis. A tricotomia mar/charneca/serra aparece-nos com encanto e beleza logo aqui, pouco depois de deixarmos Porto Covo para trás. A cerca de mil metros da ilha, avistamos a Praia do Queim
ado, um conjunto de arribas altas, extremamente rochosa, integrada numa estreita porção de areia. Aqui, quem, reina são os pescadores profissionais e os caminhantes destemidos. Só quando a maré vaza é possível aceder a este fragmento de costa. Continuamos a ouvir o bater das ondas nos rochedos. Estamos a deixar o Concelho de Sines para mergulhar nas praias do Concelho de Odemira.
É aqui, a 2 quilómetros a sul do Forte do Pessegueiro e já na fronteira com Odemira que avistamos a Praia dos Aivados, que f**a situada na foz do ribeiro com o mesmo nome. A beleza salta à vista, as gaivotas circundam sentinela aos ninhos de cegonhas, inatingíveis, logo ali na nossa frente, no sopé da falésia mais escarpada. O extenso areal dos Aivados é um manto delicodoce espraiado rumo à forte ondulação que caracteriza este local, muito procurado para a prática do «surf» O mar bravo contrasta com a nudez quase deserta da praia. Para o visitante, existem duas alternativas para descobrir os Aivados: pode aceder por uma estrada que passa junto ao Forte do Pessegueiro (e se dirige para sul), ou por um desvio na estrada alcatroada que liga Porto Covo a Vila Nova de Milfontes. Mas a melhor forma de lá chegar ainda é virar à direita na paragem da autocarros em Foros da Pouca Farinha, (a caminho de Milfontes) e percorrer o caminho de terra batida. É fácil de ver, pois está bem assinalada. Sempre rentes à costa, passada a Ribeira da Azenha, entramos no Concelho de Odemira, o maior da Europa em extensão territorial. A estrada que conduz a Vila Nova de Milfontes serpenteia paralela à costa e assume o papel de simples divisória física, mais visual que efectiva, entre esse mundo turístico e o mundo rural tradicional alentejano. Toda esta região tem vindo a receber uma atenção que a valoriza. Em vez da construção desenfreada assistiu-se a esforço de recuperação de imóveis tradicionais, quer a nível das vilas e aldeias da região, quer a nível dos montes tradicionais que se vêm agora virados cada vez mais para o turismo de habitação. Seguindo a estrada que liga Porto Covo a Vila Nova de Milfontes e depois de passar o parque de campismo do SITAVA, cerca de um quilómetro mais à frente existe um desvio à direita. A estrada é de alcatrão apenas alguns metros, depois segue-se um estradão de terra batida de pouco mais de 3 quilómetros. No final deste troço encontramos um novo cruzamento e um parque de estacionamento. Em baixo, na base da falésia f**a a Praia do Malhão, em todo o seu agreste esplendor. Para chegarmos à primeira baía mais a sul deveremos tomar a estrada de terra batida que surge à esquerda e andar cerca de um quilómetro até encontrarmos de novo um desvio à nossa direita. No final da estrada há um amplo espaço que dá para estacionar o automóvel. Depois há que percorrer umas boas centenas de metros até ao local de entrada, na ponta da baía. Vila Nova de Milfontes, surge-nos num piscar de olhos, através da Praia do Malhão, a última extensão de areia selvagem da Europa. Aparece-nos como que um embalo natural onde a vontade de mar não pode senão ser potenciada.
É uma faixa de areal contínua com aproximadamente 5.000 metros de comprimento para uma profundidade média de 30 metros, que se estende desde o extremo norte do concelho de Odemira até à ponta rochosa denominada Furada do Norte, situada na base de uma formação dunar bastante desenvolvida. Disposta entre arribas de duna consolidada, o mar do Malhão é suficientemente interessante para a prática do «surf». Estamos sobre uma vasta área de excelente areia, que se divide em várias praias, todas com um nome. O Sitio da Cruz, é um dos pontos menos concorridos do Malhão, é composta por altas dunas que protegem um extenso areal cortado por rochas e pequenos promontórios. Espaçosa e isolada, tem as condições ideais para a prática do naturismo. Existem vários caminhos pelas dunas, mas alguns interditos a automóveis, pelo que o melhor modo para lá chegar continua a ser a pé, pelo respectivo areal. Seguidamente encontramos o Saltinho, uma das praias do Malhão mais procuradas pelos adeptos do naturismo, com um areal espaçoso cortado por um pequeno curso de água. Mesmo no pico do Verão, nunca é visitada. Ideal para pessoas com espírito de aventura. A Praia dos Nascedios - assim chamada devido aos vários cursos de água doce que por ali correm – surge-nos sob debaixo dos pés formando pequenas lagoas durante a maré baixa...
Rumo à descoberta de um paraíso chamado Malhão, vamos deter-nos num local que quase diríamos já não existe: uma praia chamada Nascedios, assim designada devido aos inúmeros cursos de água doce que escorrem das dunas, formando pequenas lagoas. Existe uma estrada pelo cordão dunar, mas na maior parte das vezes f**a intransitável, o que é bom, evitando a frequência de automóveis. O único meio de entrar no paraíso do Malhão continua a ser pelo areal; e é desta maneira que damos por nós noutro esboço da presença do céu na terra, a Praia das Galés, é a mais pequena divisão da zona do Malhão. Delimitada, tanto a norte como a sul, por rochas a que os locais chamam «galés» (não se admire se ouvir falar em Galé Grande, Pequena e Deitada);é uma das mais concorridas. Atenção: aqui a estrada de terra batida leva-nos quase até à praia. Já estamos na Bica, a primeira praia do Malhão acessível por automóvel, a que tem melhor acesso, mais espaço para estacionamento e, logo, a mais concorrida. O Malhão é assim como uma espécie de santuário na costa portuguesa, onde o cimento e o betão à muito foram proibidos. O areal a perder de vista, é coroado por dunas altas e pela rocha escura que contrasta com a cor da areia fina. Além de toda a beleza natural, o mar – sempre gelado, por sinal – tem sempre boas ondas para o «surf», atraindo muitos praticantes desta modalidade. As grandes dunas que enquadram a praia parecem quase que ali postas para abrigar os hedonismos de Verão. Estas dunas têm a característica de se elevar da praia em direcção ao campo e entrarem mesmo pelo campo adentro. Efectivamente, quem se dê ao trabalho de subir a duna ao lado do mar em direcção a terra, arrisca-se a cair, do outro lado, na horta de um qualquer agricultor, cujas couves crescem embaladas pelo som das ondas, do outro lado da areia. O Malhão, como parte fulcral do coração do Parque Natural convida a quem tenha um espírito reptiliano necessário para acolher banhos de sol o dia inteiro. Para os restantes haverá na zona várias actividades de interesse, de vertente mais radical, como o Parapente (Serra da da Samouquinha-S.Luís, a 5 quilómetros de distância). O mar do Malhão é cortado por ondas constantes e, como nos Aivados é preciso ter algum cuidado. Não existe nesta praia qualquer apoio em terra, a nível de hotelaria, mas a praia é vigiada. O acesso é feito num desvio que existe ao lado direito, antes de chegar a Vila Nova de Milfontes, e está bastante visível a placa com o nome da praia. A estrada de terra batida que acompanha a costa em direcção a Milfontes é particularmente atraente para a prática de ciclismo todo-o-terreno, sendo a variedade de flora e da paisagem convidativa para passeios mais contemplativos e menos esforçados. Afinal, o único senão da Praia do Malhão é mesmo o acesso, especialmente quando, no final do dia, é preciso escalar a rocha para voltar à civilização.